O horror pela mesma coisa de sempre é uma das mais errôneas e preciosas paixões que é incutida no coração humano – uma fonte infinita de heresias na religião, de conselhos estúpidos, de infidelidade conjugal e de inconstância nas amizades. Os humanos vivem dentro do tempo, e vivenciam a realidade numa sucessão de eventos. Para experimentar o suficiente dessa realidade, portanto eles precisam ter experiências com várias coisas diferentes; em outras palavras, eles precisam passar por mudanças. E, já que precisam de mudanças, Deus fez com que elas fossem para eles algo prazeroso. Mas como Ele não deseja que eles façam da mudança, como o ato de comer, um fim em si, Ele contrabalançou neles o amor pela mudança com o amor pela permanência, que chamo de ritmo. Deus nos dá as estações: cada estação é diferente e ainda assim igual todos os anos, de tal modo que a primavera sempre parece uma novidade e, ainda assim é percebida por uma repetição de um tema imemorial.
Bem, assim como exageramos o prazer da comida para induzir à gula, da mesma maneira deturpamos o prazer proporcionado pela mudança para transformá-lo em uma necessidade de novidades absolutas. Essa necessidade é criação exclusivamente maligna. Foi então instaurada a necessidade de mudança infinita e arrítmica.
Sob vários aspectos essa necessidade pode causar o tolo. Em primeiro lugar, ela diminui o prazer ao mesmo tempo que aumenta o desejo. O prazer proporcionado pela novidade está por sua própria natureza mais sujeito do que outro à lei do retorno decrescente. Além disso, a novidade contínua custa dinheiro; então, o desejo pela novidade resulta em avareza, ou em infelicidade, ou em ambas. E, novamente, quanto mais ganancioso for esse desejo, mais cedo irá se cansar de todas as inocentes fontes de prazer, e mais cedo passará àquelas que são maléficas e proibidas por Deus. Nesse estágio encontramos pessoas que são arrastadas diariamente para os revigorantes excessos da lascividade, da insensatez, da crueldade e do orgulho.
Sendo assim, surgem tendências e modas que marcam gerações e eras. As eras cruéis resguardam-se contra aquilo que é sentimental, as eras apáticas e ociosas contra aquilo que é honroso, as eras lascivas contra o puritanismo; e sempre que os homens na verdade estiverem rapidamente tornando-se escravos ou tiranos, o fantasma a ser temido e que a faz-nos tremer, é o liberalismo.
E “O horror pela mesma coisa de sempre” é elevado a quase uma filosofia, de tal forma que o absurdo intelectual possa reforçar a corrupção da força de vontade. E esquecemos da tão útil e natural obviedade, dom de Deus, e não nos fazemos perguntas bem simples como: “Isso é correto?”, “É possível?” – e nos enveredamos em outras: “Isto está de acordo com as idéias gerais do nosso tempo?”, “É algo voltado para o futuro ou reacionário?” – ou simplesmente não pensamos em nada, vamos na direção da maré. E enquanto nossa mente entre nesse vácuo, nos curvamos em a tendência.
Há muito tempo, tinhamos consciência de que algumas mudanças vinham para o bem, outras para o mal, enquanto outras não faziam diferença. Mas ainda confundimos o imutável com o estagnado. Pensamos demais no futuro como uma terra prometida reservada aos heróis privilegiados – não algo que todos alcançam na velocidade de sessenta minutos por hora, independente do que façam e de quem sejam.
Texto de C.S. Lewis Adaptado.
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ResponderExcluirHorror pela as mesmas coisas de sempre.. muito bom o texto. Nos leva pensar e desejar as mudanças. Hoje me considero uma pessoa incomodada com as mesmas coisas.. com a mentira e hipocrisia, com a ambição e a ganância, com o orgulho e a soberba. Essas coisas me incomodam e me traz o grande desejo de não ser assim. Peço a Deus que me ajude ser humilde para não cair nesses erros, e se cair para que eu possa ser corajosa o suficiente e assumir o erro! Muito bom irmã.. parabéns! E que sejamos pessoas inconformadas com a mesmice do dia a dia.
ResponderExcluirBjs
Grazi :)