segunda-feira, 23 de agosto de 2021

“A religião é um sonho da mente humana” – L. Feuerbach

A religão para mim foi um sonho. Uma imagem de espelho, um reflexo daquilo que eu mais amava, o melhor da minha essência. O que havia de divino, os mais sagrados valores, o mais absoluto, toda a bondade de viver, comer, ouvir, cheirar e ver.

A religião foi para mim a revelação dos segredos da minha própria alma. Sonhos de justiça e de misericórdia. Eu sonhava, mas não entendia os meus sonhos. E o sonho foi assim preservado por um longo tempo, noite após noite, dia a após dia. Por que o religioso não entende o seu sonho. 

As imagens que a religição tomava como retrato era na verdade uma construção do sonho mais belo e mais perfeito, cheio de esperanças e desejos... A religião era como os segredos de minha alma, minha idealização. Por detrás dos mitos, ritos, cerimônias, jejuns e promessas estava uma anseio por uma nova terra, um novo corpo. 

Mas com o tempo o sonho foi interpretado, pedaço a pedaço ele foi compreendido. O segredo foi descoberto, o enigma desvelado! 

A partir de então os céus se transformaram em terra, o que estava no alto se mostrou à frente, como um reflexo... 

Entendido o sonho, construí minha esperança e lancei-me à luta do real. 

O deus da religião desaparecia...


segunda-feira, 24 de junho de 2019

Adultos

Ainda me sinto um pouco perdida.
Quando jovem, bem jovem, achei que isso passaria com o tempo... mas não, essa sensação é comum nos meus idos trinta e poucos anos...
Na fase adulta, vejo que os adultos são como os jovens, só que mais rijos pelo tempo, mais conformes ... Mas em nosso íntimo, pulsa, timidamente, o mesmo desejo de quanto descobrimos o mundo da razão.
Talvez abandonemos alguns sonhos,
talvez a dura realidade nos desencante com seus termos...
Mas lá estamos nós, ainda sonhando, ainda a procura
E ainda estou lá, a essencialmente a mesma, com a existência radicalmente transformada.
Ainda me lembro da infância, da adolescencia e juventude... Ainda é tudo tão próximo ao passo que tão distante
Mas é porque estou lá, estou aqui, sou eu, um eu do todo que vivi.
Ainda com muitas questões, tantas perguntas e inquietações.
Verdade é que me perco, nessa época de tantos caminhos, informações e distrações... Mas os anos nos ensinam a pensar, observar um pouco... Verdade que ainda me perco... Mas me acho.

sábado, 10 de outubro de 2015

Notas de um Aluno a seu Mestre

O Mestre

Ele sai de casa, abandona a si...
e mesmo que a chama teime em se apagar ou por vezes incendei sem parar, 
existe a ideia e, ninguém pode matar a ideia
Idealista...
Caminho árduo, indescritivelmente belo.
Ser professor em todo aquele lapso de tempo durante o qual há a vontade de aprender, há o preparo, o acordar, o sair de casa, a caminhada pela rua, em todo o tempo a batalha é suficientemente travada. 
A noção de ser professor é ser em todo o tempo.


quinta-feira, 11 de junho de 2015

Fédon

"Tive medo de que minha alma se tornasse completamente cega olhando as coisas com os olhos e buscando captá-las com cada um dos outros sentidos. Por isso, achei necessário refugiar-me nos raciocínios (logoi) para neles considerar a veracidade das coisas (...). Seja como for, encaminhei-me nessa direção e, a cada vez, tomando por base o raciocínio que me parece mais sólido, julgo verdadeiro aquilo que com ele concorda, tanto em relação às causas como no que se refere a outras coisas, considerando como não verdadeiro aquilo que com ele não concorda."

terça-feira, 24 de março de 2015

Agosto de Luto

Se você precisa ir...
Era uma tarde de sol...

"Deixe-me ir preciso andar
se alguém perguntar
diga que não vou voltar"

Fez-se o pranto
E a luz se apaga
E a raiz arrancada

Vai, corra e olha o céu
pai, se vai..
me sinto tão só...
em dor maior
bem maior
e há o vazio e a nulidade
e tantas histórias para trás
e nada pela frente...

Fez-se a agonia
Fez-se o espanto
Minha mãe, filha de branco e de preto
com olhos tristes,
nem um soneto...
perdeu-se a rima
Minha mãe, solidão
Fez-se o não..
Fez-se o pranto
e o espanto
e a raiz arrancada
e a luz apagada...

Pai, vai... em paz

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Moça

“Entre um e outro homem o espírito reserva um estranho espaço. Um sonho de moça a distancia de mim. Como atingi-la? Que posso saber dessa moça que volta para casa a passos lentos, os olhos baixos, sorrindo para si mesma, cheia de descobertas e mentiras adoráveis? Com os pensamentos, a voz e os silêncios de seu amado ela construiu um Reino – e desde então, para ela, fora desse Reino todos são bárbaros. Mais do que se estivesse em outro planeta, ela está isolada de mim em seu segredo, em seus costumes, nos murmúrios encantados de sua memória. Nascida ontem dos vulcões, da relva, do sal dos mares, essa moça já é meio divina".

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

2012

Tudo agora está suspenso.
Meus sentimentos, o tempo e as decisões.
E o medo se apoderou de mim, impiedoso.
E Deus conhece minha pouca força e firmeza de espírito.
Uma ausência ansiosa me incomoda e me faz parar.
E o tempo é soberbo, duro e decidido. Discorre indiferente.
Onde estou? Onde está a coragem tão asaz, tão evidente e altiva?
Como pode tudo se transformar em tao pouco tempo?